Minas relembrada




segunda-feira, 23 de julho de 2007



Quando penso em Minas,
lembro-me das ruas de concreto e de pedra.
Não sei porque de Juca Xavier.
E vagueia timidamente um número,
que nenhum numerólogo poderia decifrar,
que na Palavra não queira dizer nada,
não tenha nenhum significado escamoteado: dezoito.

Quando penso em Minas, penso no trem.
Não num trem folclórico, objeto de anedotas.
Penso num trem que carrega minérios,
penso no cinza lunar dos minérios,
que tantas vezes vi e inspirei seu brilho.
O minério que corre por minhas veias,
fazendo-me algo dado e sólido,
como uma rocha.
É a tentação originária, o desejo mais reveladamente oculto,
pois o minério sempre passa quando o trem passa.

Lembro-me das montanhas, das curvas de nível, do azulado da montanha
e do frio que dá ao pensar na possibilidade
de que nada me impossibilitava de me lançar no abismo.
A beleza selvagem e delicadamente modelada.
As montanhas do meu coração...

Lembro-me de poeira, de carros e do, cada vez mais raro, carro de boi.
O barulho único que espezinhava a pequena população.
Lembro-me do povo, da fé do povo, do povo da fé.

Quando me lembro de Minas,
lembro-me de um Rio Doce,
lembro-me de areais, de mudanças, de caixas e pacotes,
lembro-me do rosto colado no vidro do carro ou do ônibus
e também me lembro, tão claro como esta noite de verão,
na qual, com pequenas fincadas na carne,
num exercício quase que masoquista,
tento rever meus passos, minhas digitais esculpidas
numa caverna de estalactites, com dedos de um artífice aprendiz,
do aceno de mão imaginado de mil formas e não feito,
lembro-me, com amargor, do adeus que não a dei.

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