Remissão




sexta-feira, 10 de agosto de 2007

As mãos frias nos joelhos encolhidos.
Olhos amargos contemplando a maçã sobre a mesa.
Maçã, rubra e tentadora.
Delícia.
Pecado.
Ouvidos atentos à Sonata de Bethoven.
E o vento...
Ah, o vento que faziam as folhas bailarem no ar!
E a Sonata...
E o vento, as árvores e os trovões
anunciando a tempestade que viria lavar
a cidade
o bairro
as casas
a casa
e o corpo encolhido na sala vazia.
Chuva interna e externa.
A primeira lágrima rolara.
E o vento mais forte trazia, com os trovões,
o temporal que lavava a tudo e a todos.
A janela aberta permitia que as águas entrassem
e molhassem a mesa, a maçã, o corpo, a sala,
as mãos, agora mais frias.
Tudo estava purificado.
O corpo estava limpo.
E os olhos fundos de tanto chorar contemplavam,
por entre as espessas nuvens um raio de sol.
E o arco-íris.
A aliança.
Tudo fazia sentido.
Tudo estava claro.
Estava.
Não era.
Logo será necessário outro temporal
para lavar
a cidade
o bairro
as casas
a casa
o corpo encolhido
e a culpa de simplesmente
Ser humano.

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